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Valiha do Madagascar e Moda de viola...tudo a ver

2020-08-04 1 0 Vimeo

(Conto apenas para eu mesmo acreditar. Post #01) Minha mãe foi uma fervorosa incentivadora de mim, do que sou, do que eu me tornei, hoje já quase tão velho quanto ela era quando nos deixou. Essa história é apenas uma entre as tantas que ficaram gravadas em mim: Fiz muita pesquisa de campo em visitas a ela na Roça, no estado do Espírito Santo (Jerônimo Monteiro, o nome do lugar onde nasceu e para onde retornou feliz quando envelheceu). Tinha jongo lá, tinha moda de viola, moda de sanfona, tinha calango... Minhas pesquisas nunca foram apenas livrescas, discursivas, teoricistas. Fazia muito laboratório, seja lá onde estivesse, as mãos sempre fazendo a pesquisa física, concreta, tirando os sons, o prazer e as conclusões delas, das mãos. Certa vez plantamos cabaças no pequeno sítio dela. Acompanhamos todo o processo, abóboras que são, vimos as flores brancas das cabaças surgirem, diferentes das amarelas das abóboras comestíveis comuns. Testemunhamos tudo, até as bichinhas virarem ressonadores de marimbas. Dessa vez. Nessa história de agora, minha experiência era com bambufones asiáticos, desses de música de Gamelon (gamelão como os portugueses dizem), uma música dessa região chamada de Indonésia, a Índia e a Ásia imiscuídas naquele Oriente mítico dos Aladins. Porque? As marimbas africanas, a rigor vieram de lá, das relações dos asiáticos com a costa oriental africana, antes dos portugueses filhos da puta chegarem por lá...sabiam não? Pois é. Estava eu entretido com com os testes com as varas de bambu, verdes ainda, estiradas no chão de terra do pátio perto da casa quando chegou o vizinho, o velho Seu Políbio (98 anos na época) que havia cedido os bambus. Políbio estava curioso. Não deu nem bom dia e veio logo com a pergunta: “_ Vai fazer o que com esse bambu, menino?_”..e emendou:”_ Viola de taquaraçu?” Um ponto de interrogação cintilante piscou na minha cabeça de chafurdador: “_ O que? Como é isso?_” Seu Políbio se agachou, pegou um canivete da cinta, escolheu um pedaço do bambu e lascou uns quatro fiapos da pele do dito. Aí pegou uns pequenos naquinhos do próprio bambu e enfiou entre os fiapos, que, magicamente viraram cordas e...tocou uma escalinha mínima pra mim, que embasbacado estava, mais embasbacado fiquei...ensandecido. Eu conhecia aquilo, de ver a foto num livro. Antes mesmo que eu perguntasse Políbio (que era branco) falou: “_ É uma violinha que os preto antigo daqui faziam!_” Era algo doido, demais de impressionante. Aquela...”Viola de Taquaraçu”, era, exatamente uma...”Valiha”, cítara típica do Madagascar, ilha na costa de Moçambique! Era a desprezada cientificidade da cultura oral provando tudo. Africanos da costa de Moçambique, muito provavelmente do Madagascar foram trazidos como escravizados para a região onde minha mãe nasceu. Sem dúvida! Sim...Conhecia a “Valiha” há anos. Cheguei a especular que sua origem remota seria, talvez - como ocorre com as marimbas - algum lugar asiático no Oceano Índico, a China talvez, onde cítaras tradicionais seculares, muito semelhantes, como a chamada “GuanXiao” ou mesmo a “Guqin" (esta de 3.000 anos atrás) são muito populares. Mas nunca tinha ouvido direito o som da dita. Foi o que me deu o estupor de agora. Gente de Deus! A música tradicional da Valiha do Madagascar, vinda pra cá, via Moçambique talvez, um gênero que, seja lá o nome que tiver na África é...MODA DE VIOLA caipira. Juro! Escutem no vídeo se duvidarem. Pasmem, mas a música mais tradicional e popular do Sudeste do Brasil, de Minas Gerais, São Paulo, e até mesmo do...Espírito Santo da minha mãe e do Seu Políbio, fonte oral de toda essa fantástica história, pode ter vindo (não digo que sim nem que não)...da África Oriental. É: Vivendo - o tempo que for - e aprendendo. (Vejam o vídeo e se embasbaquem como eu) (Nota: as novas constatações etnomusicológicas expressas nesse post, têm a sua propriedade intelectual assegurada por uma licença Criative Commons. Quer difundir, divulgar? Vai nessa, mas nunca esqueça de atribuir o crédito ao autor. Simples assim) (A legenda do vídeo): “Publicado em 10 de fev. de 2012 O Valiha é uma cítara de tubo de Madagascar feita a partir de uma espécie de bambu local. É tocado pinçando as cordas feitas de metal ou (originalmente) a pele de bambu que pode ser quebrada em fios longos e sustentada por pequenas pontes de pedaços de abóbora seca. O Valiha é considerado o instrumento nacional de Madagascar. Sons mágicos no Valiha O Valiha ou Bamboo Zither (cítara de bambu) é o instrumento tradicional de cordas de Madagascar. Na versão mais simples, é fornecida com cordas que foram trabalhadas com casca de bambu; estes são ajustados com espaçadores em diferentes alturas. Construções mais complexas têm 16 cordas de metal, têm mais de 1 m de comprimento e são decoradas com motivos folclóricos. O instrumento é mantido entre as pernas ou sob o braço e é tocado com as duas mãos.” Mais Infos: http://baptisten-duesseldorf.webnode.